Neste fim de ano, sejamos todos corinthianos

Emocionante o bota-fora da torcida corinthiana ao time que, a partir de agora, não é mais só dela, mas de todos nós. Manifestações como esta (e como, em outro clima, a dos gremistas no adeus ao seu estádio) é que fazem do futebol, de todos os esportes, o mais movido a paixão. O que é ótimo. Sim, claro, a paixão não conhece limites, daí, muitas vezes, em lugar de emocionar, ela nos levar a condená-la. É quando, como se possuído, o torcedor deixa que o ódio ao adversário supere seu amor ao clube e o transforme num instrumento de violência. 

Mas isso não tem nada a ver com o bota-fora. Nem com a sadia loucura que, segundo José Trajano no “Linha de Passe”, tomou conta de São Paulo. No mesmo programa, Juca Kfouri estimou em 20 mil o número de corinthianos que estão indo ao Japão. Número que deve dobrar com os outros brasileiros, niseis e mesmo japoneses que estarão no estádio torcendo pelo Corinthians. É mesmo de emocionar.

Fala-se que muita gente vai torcer contra. Acredito. Rivais históricos – palmeirenses e são-paulinos, principalmente – hão de considerar uma traição aos seus princípios querer que o Corinthians seja campão do mundo. É explicável. Faz tempo, porém, que eu me convenci de que torcedores podem ser divididos em dois grandes grupos: os que amam o clube mais que tudo (incluindo nesse amor igual dose de desamor ao adversário) e os que amam o futebol tanto ou mais que ao clube. Estes, uma sonhadora e talvez ingênua minoria, também são movidos a paixão, mas, sem que tenham consciência disso, fazem do amor ao clube, da torcida, do comprometimento, a melhor maneira de amar o futebol.

Teorizações à parte (elas que, tratando-se de futebol e de paixão, são sempre discutíveis), a hora é de... não torcer contra. O Corinthians merece ser campeão, sua torcida merece comemorar, quem gosta de futebol merece ver o time de Tite coroado do outro lado do mundo. Sei que futebol não é questão de merecimento. Mas, pelo menos desta vez, vale torcer para que os deuses da bola façam justiça no Japão.